Conto natalino
Penso na coincidência de estar lendo, nesses dias de festa, os dois livros que estou lendo. A coincidência não é dessas preparadas pelo subconciente, porque não escolhi ler os dois justo nessa época. Um, Memórias Inventadas - A Segunda Infância, de Manoel de Barros, eu ganhei de um grande amigo, de despedida. O outro, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, eu comprei há muitos meses, e como minha leitura é lenta, vem se arrastando desde então. Não acho, também, que se trate de um milagre natalino, obra de algum elfo ou de Santa - isso pareceria filme da Sessão da Tarde. Acho que foi só eu ter enxergado essa, uma das infinitas ligações possíveis entre um livro e o outro e o natal. E se deu a coincidência.
Como disse, a leitura do Evangelho é lenta. Parece que consulto o livro. Entre épocas cheias de afazeres, ou nas quais escolho outro lazer para chamar o sono, de vez em quando o leio. Vão, em média, quatro páginas por noite, da edição de bolso que tenho. Nessa toada, o Menino nem nasceu ainda.
Já no outro, que fala de outra infância, sou rápida. Pela familiaridade das impressões ou por saudade das paisagens pantaneiras, onde o Manuel de Barros foi menino. Sigo debulhando os poemas soltos feito cartas na caixa de lembranças, desta edição.
Daí, o que se segue é a coincidência: enquanto nosso Menino não nasceu lá na Galiléia, preparo meu cenário do que será sua infância. Os dias passados na sombra de umas árvores, os burrinhos e o gado. Os capões de acuris, como oásis, e as palmeiras carandás beirando baías esturricadas. Os colhereiros, cabeças-secas e garças vêem o menino crescer. Tuiuius ao redor enfeitam a paisagem. Num poleiro, o caramujeiro quebra conchas de pomáceas. Ouvem-se os 'trocs', e os aranquãs não terminam nunca sua gritaria. Nos brejos, as jaçanãs ensinam a andar sobre as águas. E as flores dos chapéus-de-couro, de um branco imaculado, são fecundadas pelo vento. Poucas são as pessoas, menos são os meninos. Naquele fim de mundo, brincam adultos e crianças com as palavras para aumentar os brinquedos. São personagens o besouro, a lata enferrujada e o tempo. Transformam coisas em seres e os multiplicam para espantar a solidão daquela 'lacuna de lugar'.
Eu não li as primeiras Memórias Inventadas, que falam da infância. Estas que leio agora - A Segunda Infância - tratam da adolescência, da mocidade. A terceira infância, será a velhice. E, de novo, criarei cenários.
Como disse, a leitura do Evangelho é lenta. Parece que consulto o livro. Entre épocas cheias de afazeres, ou nas quais escolho outro lazer para chamar o sono, de vez em quando o leio. Vão, em média, quatro páginas por noite, da edição de bolso que tenho. Nessa toada, o Menino nem nasceu ainda.
Já no outro, que fala de outra infância, sou rápida. Pela familiaridade das impressões ou por saudade das paisagens pantaneiras, onde o Manuel de Barros foi menino. Sigo debulhando os poemas soltos feito cartas na caixa de lembranças, desta edição.
Daí, o que se segue é a coincidência: enquanto nosso Menino não nasceu lá na Galiléia, preparo meu cenário do que será sua infância. Os dias passados na sombra de umas árvores, os burrinhos e o gado. Os capões de acuris, como oásis, e as palmeiras carandás beirando baías esturricadas. Os colhereiros, cabeças-secas e garças vêem o menino crescer. Tuiuius ao redor enfeitam a paisagem. Num poleiro, o caramujeiro quebra conchas de pomáceas. Ouvem-se os 'trocs', e os aranquãs não terminam nunca sua gritaria. Nos brejos, as jaçanãs ensinam a andar sobre as águas. E as flores dos chapéus-de-couro, de um branco imaculado, são fecundadas pelo vento. Poucas são as pessoas, menos são os meninos. Naquele fim de mundo, brincam adultos e crianças com as palavras para aumentar os brinquedos. São personagens o besouro, a lata enferrujada e o tempo. Transformam coisas em seres e os multiplicam para espantar a solidão daquela 'lacuna de lugar'.
Eu não li as primeiras Memórias Inventadas, que falam da infância. Estas que leio agora - A Segunda Infância - tratam da adolescência, da mocidade. A terceira infância, será a velhice. E, de novo, criarei cenários.
Foto: Letícia Couto Garcia
Comentários
Saudades imensas de tudo!
E a foto é ótema!!
Mil beijocas!!!