As noites
No segundo mês de Pantanal, após o êxtase do primeiro contato, minha alegria já não beirava os 100%. Na verdade, andava bem lá pelos seus 50%. Se por um lado eu me deslumbrava com as praias e o rebuliço dos peixes nas curvas do rio Miranda, os ingás às suas margens, a variedade de aves e mamíferos como eu nunca havia visto, eu andava repetindo para mim: "No Pantanal, eu me sinto mal". Me comprazia perversamente com isso, pela rima besta e pela sacanagem com um dizer que rola em camisas e adesivos daqui: "No Pantanal a gente fica legal. Palavra de jacaré." Eu andava sobressaltada. De que eu tinha medo? Ah, de poucas coisas. Mas muito grandes coisas, que permeavam minha vida desde que sai da casa dos pais e me mudei para uma cidade inóspita, onde faria minha própria América. No Pantanal, depois do dia feliz nos brejos das flores de plantas aquáticas, cercada de garças e colhereiros, após os passeios alegres na caçamba da Toyota até os pontos de coleta, depois das refe