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Mostrando postagens de setembro, 2006

Para um agradável passeio no campo

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É difícil compreender o que significa 'muitos mosquitos' quando não se conhece o Pantanal. Principalmente a região onde trabalho, o Pantanal do Miranda. E trabalhar entre pernilongos é um assunto á parte. Exige tecnologias. Exige repelente de pterodáctilos, já que nenhum dos comercializados espanta os merdinhas. Calça e camisa, não basta serem compridas. Deveriam ter poros que impedissem a penetração das probóscides, mas que fossem providos de bombas que permitissem a transpiração do pobre pesquisador no campo. Na falta, eu e minha equipe aprendemos com a prática que utilizar meia-calça sob a calça diminui a chance de dois poros se sobreporem, o que impede a passagem do aparelho bucal dos dípteros, com subsequente encontro da pele. As camisas devem ser duas, pelo menos: uma de mangas compridas, frouxa, sobre camiseta de malha. Ainda assim, os cotovelos, ombros e partes em que o tecido aderir à pele serão espoliados sem pudor. Para a cabeça, dispomos de um véu que, jogado sobre

Nymphaea amazonum

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De vez em quando saimos para passear à noite: eu, Marquinho (ele fala a língua das plantas), Sam (o homem das abelhas) e Lara, minha fiel escudeira (ela é Tomb Rider) - os personagens de todas as minhas histórias. Naquela noite, estava também Carlos, o gaúcho. Saímos para apreciar as estrelas, a Via Láctea estalada no céu, tentar a sorte de ver algum bicho, fazer a digestão do jantar. Evitando o inconveniente de botas molhadas e bocadas de jacarés, evitamos o atalho que estava alagado naquela cheia, fomos pela estrada de chão que circula a Base. Observamos peixinhos em intensa atividade nas bocas da manilha sob a estrada, que conectava dois brejos. Tomamos a malha de passarelas nas palafitas sobre os alagados, a ponte pênsil, as pontes rígidas. O alagado sob o Passo do Lontra fora encoberto por Lemna, dona da menor flor existente e de folhas também diminutas, que se propaga por fragmentação em quantidades tais, que forma densos tapetes flutuantes. Vimos os chapéus-de-couro, que emerge

Navegar, sem cessar

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"Como se entra no tal? Ouves o rumor do rio? É claro, Mestre. Essa é a porta." Conversa zen Os aguapés, chamados aqui de camalotes, descem o rio emaranhados, lentamente. Ao passar, conduzem os observadores a um estado meditativo em que só existe o barulho das águas e os camalotes, sem cessar, descendo o rio. Onde nascem e onde morrem, se irão emaranhar-se na galharia submersa ou juntar-se às macegas nas margens do rio, ou se chegarão ao seu destino, e se têm destino, quem é que sabe? Até onde encontrarão as boas condições e, chegando ao mar, se terão cumprido sua missão de sobreviver, se proliferar e dispersar, e se têm essa missão, é um mistério profundo. Mistério dos camalotes e do rio. O próprio rio não pára, nem à noite. Corre para ninguém ver, para platéia alguma. Outros bichos e plantas o visitam à noite, mas ainda que nenhum fosse, ainda que o mundo se tornasse um deserto de criaturas, o rio continuaria a correr, para ninguém.