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Mostrando postagens de novembro, 2006

Despedida III

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Os meninos nos chamaram, eu e a Lara: "Venham ver um bugio tomando banho". Largamos tudo, trenas, pranchetas, e fomos ver a festinha do macaco que fazia exatamente o que gostaríamos de fazer naquele fim de tarde quente. Na beira de um corpo d’água lamacento e quase seco estava o bugio. Nos aproximamos devagar para não espantá-lo. Estava bem esparramado, o bugio, e fechava os olhos como aqueles macacos japoneses se banhando nas águas termais na paisagem branca de gelo. Nos aproximamos um pouco mais. Ele abria os olhos devagar, nos mirando sem expressão, e tornava a fechá-los. Aquele macaco não se divertia. Não tinha expressão de alegre nem triste, mas estava cansado. Aquele bicho não estava bem. Rodeamos ele e vimos os machucados nos braços. Estava morrendo. O Sam saiu de perto e depois disse que não respeitamos o bicho. Mas não queríamos desrespeitá-lo. Sabíamos que estava estressado, por isso não nos aproximamos muito, nem mexemos com ele. Só observamos. E, Deus me perdoe,

Despedida II

Conheci um cara quando eu já sabia que viria morar no Mato Grosso do Sul. Em outro país, conversávamos sobre o Pantanal, e ele, que já havia morado aqui, contava como amava as mangas. "Aqui, se quiser chupar uma manga, você vai ao supermercado e encontra duas em uma bandeja de isopor, insossas, e te pedem por isso tantos soles. Lá as mangas eram tão doces, e tantas, que eu jogava futebol com elas". Comi amoras, acerolas e até goiabas que cresciam dentro das minhas parcelas, mas nunca mais me lembrei das mangas do Pantanal. Na minha última vez lá, trabalhávamos nuns capões e nossa água acabou. Fui encher os cantis numa fazenda próxima, que era a São Bento. Ainda antes da sede, na estrada mesmo, encontramos mangueiras tão carregadas, que nos sentimos como passarinhos atraídos pelas frutas. Eu chupei ali mesmo, ainda quentes, apanhadas do chão, as mangas derrubadas pelos príncipes-negros. Esses periquitos não sabem o bem que nos fazem ao cortar os cabinhos sem poder sustentar as

Despedida I

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A última vez em que estive no Pantanal, foi minha última vez lá. Quer dizer, foi minha última coleta. Talvez eu volte, se assim for planejado, mas para fazer o que eu fiz durante um ano e meio, foi a última vez. Me preparei: ficaria atenta a todos os sinais. Ficou parecendo que a natureza é que fez uma despedida para mim. Há muitos anos, quando eu acabara de entrar para a Biologia, ouvi um professor, que dizia ter morado algum tempo no Pantanal, descrever as chuvas de lá. Eram as chuvas mais lindas porque na planície se viam os quatro horizontes, o céu ficava escuro e, antes da água cair, havia tempestades de raios. O cheiro de terra molhada que conhecemos, não o conhecem fora do Brasil, porque é daqui o fungo do solo que produz esse cheiro nas chuvas. Até acho que ele não me falou do céu escuro, nem do cheiro da terra molhada, mas ao longo dos anos cultivei essa imagem e juntei a ela o som dos sapos nos brejos e poças d'água, o mugido distante de um boi na invernada, os anuns mol