Navegar, sem cessar

"Como se entra no tal?
Ouves o rumor do rio?
É claro, Mestre.
Essa é a porta."

Conversa zen
Os aguapés, chamados aqui de camalotes, descem o rio emaranhados, lentamente. Ao passar, conduzem os observadores a um estado meditativo em que só existe o barulho das águas e os camalotes, sem cessar, descendo o rio. Onde nascem e onde morrem, se irão emaranhar-se na galharia submersa ou juntar-se às macegas nas margens do rio, ou se chegarão ao seu destino, e se têm destino, quem é que sabe? Até onde encontrarão as boas condições e, chegando ao mar, se terão cumprido sua missão de sobreviver, se proliferar e dispersar, e se têm essa missão, é um mistério profundo. Mistério dos camalotes e do rio. O próprio rio não pára, nem à noite. Corre para ninguém ver, para platéia alguma. Outros bichos e plantas o visitam à noite, mas ainda que nenhum fosse, ainda que o mundo se tornasse um deserto de criaturas, o rio continuaria a correr, para ninguém.

Comentários

Anônimo disse…
Eu achei ótemo!!!
Lindo...e poético, como sempre!!
Tenho saudades suas!!
E não esqueci do seu aniversário...

Mil bitocas saudosas!!!!

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