Anfíbios e répteis
Répteis e anfíbios representam bem o brejo. Vivem e proliferam ali: jacarés, cágados, sucuris e sapos. São frios, medonhos, se arrastam - criaturas da lama, das águas turvas, das macegas de camalotes. São férteis e metamorfoseiam-se, numa lição de transformação e aperfeiçoamento - seres das águas puras, dos jardins de plantas aquáticas. Conforme se queira ver.
Esses bichos fascinam e aterrorizaram o homem. Sua simbologia segue a da sua casa, o brejo (veja o post anterior). Seu valor muda conforme a cultura, seu nível de desenvolvimento e o momento histórico, sendo geralmente concebidos de forma negativa na cultura ocidental (principalmente na cultura cristã), e de forma positiva na cultura oriental.
Basta lembrar o evento bíblico da tentação de Eva por uma serpente, que lhe oferece o fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal. E Deus amaldiçoa a serpente: “Porque fizeste isso, será maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o seu ventre e comerá o pó todos os dias de sua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (GN 3, 14-15)
Desde os primórdios, esses animais foram desprezados na cultura ocidental cristã pela sua inutilidade econômica. Numa cultura em que o homem se afirmava como superior, favorito entre todos os seres (conceito reforçado pela teologia cristã), considerando a Natureza como um conjunto de elementos a serviço de suas necessidades materiais, a razão de ser dos animais se legitimava por sua utilidade – produtores de carne, leite, lã, pele, ovos e força de trabalho. Como os répteis e anfíbios, nessa concepção, não tinham nenhuma utilidade, foram estigmatizados.
Além disso, pelo simples fato de viverem no meio selvagem, ou por estarem associados a brejos e pântanos, não sendo portanto domesticáveis, numa fase em que a civilização européia caminhava para a urbanização, em oposição às forças da natureza, os répteis e anfíbios foram associados à sujeira, à podridão e à bruxaria. Tal fato é bem retratado no manual de caça ás bruxas utilizado pelos tribunais da Inquisição, o Malleus Maleficarum : “(...) há uma distinção a ser feita entre as criaturas, pois algumas são criaturas perfeitas, como um homem, um asno, etc, e outras são imperfeitas, tais como serpentes, sapos, ratos, etc., pois eles podem também ser gerados pela putrefação. Ora, o Cânone fala obviamente (que Deus criou) apenas do primeiro tipo, não do segundo, pois nesse caso se pode comprovar com o bem aventurado Alberto em seu livro “Sobre os Animais”, quando ele pergunta se os diabos podem fazer animais reais e ele responde que sim, podem, mas apenas animais imperfeitos (...).”
Já na cultura oriental e entre os egípcios e índios americanos, esses animais são símbolos de transcendência, transformação, fertilidade e sabedoria.
Os anuros simbolizam a água e a fertilidade, provavelmente porque seu aparecimento ocorre com a chegada das chuvas, período relacionado com a agricultura e a abundância. Estes anfíbios, devido à sua metamorfose, e os lagartos, devido à capacidade de mudar de pele e também de perder a cauda e regenerá-la, são símbolos de recriação, de transformação, da morte seguida da ressurreição, de ciclos de renascimento e morte. Isto é simbolizado pelo Oroboros - figura da cobra que devora o próprio rabo. Estes animais são considerados guardiões dos grandes segredos do mundo, como o da imortalidade.
As serpentes, por realizarem mudas e por se acreditar que comiam sua própria pele e que, por isso, quando velhas, tinham o poder de se tornarem novas, foram transformadas em símbolo da cura. Eram sagradas para Aesculapius – o deus grego da cura - e acreditava-se que tinham o poder de descobrir ervas medicinais. Na Babilônia, as duas serpentes enroscadas significavam fertilidade, conhecimento e cura. A partir do século 16, passaram a ser o símbolo da medicina.
Já as tartarugas, por carregarem um casco e parecerem, portanto, capazes de carregar grandes cargas nas costas, estão representadas em muitos mitos de origem do mundo, carregando montanhas, continentes e até o universo inteiro.
Também nas Américas, sapos e rãs são considerados sagrados, símbolos da transcendência, por fornecerem substâncias utilizadas em rituais religiosos pelos povos indígenas.
Comentários
Tiririn tiririn: green!
Cada vez se superando!!!
Muito, muito bom!!!
Adorei!!
Mil beijocas saudosas!!!!
Na cultura Maia, a serpente - Kukulkán - tem status de divindade e representa a ligação entre a terra e o céu (o profano e o sagrado). A pirâmide de Chichen Itza é dedicada a ela.
Judite
bjos
Demorei, mas apareci! E outra, amei o que li... Bicha linda essa da foto, hein?! E quanto a vc, além de linda, detentora de um talento, devo dizer um dom, acredito que dado por Deus, de encantar com palavras.
Adoro vc!
Bjin
Andri
Vc é demais minêrinha... meus perabéns pelas (sempre belas) palavras...
Grande Beijo...
E salvem o brejo !!!