Paisagem da janela
Duas ruas para baixo da minha casa, tem o bosque do Museu de História Natural, que, quando crianças, eu e o Leo chamávamos de 'Matinha'. Os antigos moradores do bairro, mesmo depois de tantos anos, ainda o chamam de Horto ou Instituto Agronômico. Antes, havia, ao lado, a favelinha - invasão do terreno da Rede Ferroviária Federal. Agora, lá passa o metrô e há muito mato, e é onde a vizinhança joga entulhos. Isso eu recordo agora porque hoje acordei com uma paisagem. Na borda da mata havia um pântano com bandos de garças, uns cabeças-secas e maguaris. Era o início da manhã. A cena era clara, a imagem sem filtros. Tinham aqueles raios que anunciam a chegada do Messias atravessando a copa das árvores, penetrando a superfície d'água. O brejo e as árvores enormes, juntinhos. O pântano na beira da mata. É domingo e a cidade amanheceu silenciosa. Sem carros, buzinas, liquidificadores ou vizinhos barulhentos. Mas um bando de quero-queros eu ouvi passando para os lados da mata. Como