Nymphaea amazonum

De vez em quando saimos para passear à noite: eu, Marquinho (ele fala a língua das plantas), Sam (o homem das abelhas) e Lara, minha fiel escudeira (ela é Tomb Rider) - os personagens de todas as minhas histórias. Naquela noite, estava também Carlos, o gaúcho. Saímos para apreciar as estrelas, a Via Láctea estalada no céu, tentar a sorte de ver algum bicho, fazer a digestão do jantar.

Evitando o inconveniente de botas molhadas e bocadas de jacarés, evitamos o atalho que estava alagado naquela cheia, fomos pela estrada de chão que circula a Base. Observamos peixinhos em intensa atividade nas bocas da manilha sob a estrada, que conectava dois brejos. Tomamos a malha de passarelas nas palafitas sobre os alagados, a ponte pênsil, as pontes rígidas.

O alagado sob o Passo do Lontra fora encoberto por Lemna, dona da menor flor existente e de folhas também diminutas, que se propaga por fragmentação em quantidades tais, que forma densos tapetes flutuantes. Vimos os chapéus-de-couro, que emergem da água como as pontedérias, e que só florescem de manhã, os camalotes e as ludwigias.

Mas, de todas as plantas do brejo, as mais lindas são as ninféias. As dali (Nymphaea amazonum) têm folhas como discos verdes para flutuar no espelho d'água. As flores começam a desabrochar no crepúsculo vespertino e no início da noite estão plenamente abertas. Nesse horário, besouros pretos vêm pousar nas pétalas, atraídos pelo branco luminoso na escuridão e pelo aroma frutado, de gasolina e éter. Vêm comer estaminóides, que são estruturas reprodutivas. Durante o repasto, os besouros cobertos do pólen de outras flores visitadas tocam o órgão feminino das ninféias e as fertilizam. Durante a noite, é intensa a atividade. Chegadas e partidas, besouros inebriados, trôpegos. Bailam o rasqueado? O chamamé? As flores brancas contrastam com a noite, acesas como lanternas de festa no brejo. Brilham mais que a Via Láctea no espelho d'água.

Ao amanhecer, os escarabeídeos incautos são aprisionados entre pétalas, que se fecham à forma de botão e são recolhidos para baixo d'água. Passam o dia submersos. No crepúsculo seguinte, ao entardecer, as flores são novamente expostas na superfície da água, agora masculinas (em sua primeira noite são femininas, evitando ser fecundadas pelo próprio pólen). A movimentação dos escarabeídos prossegue noite adentro.

Foto: Marco Otávio Dias Pivari

Comentários

Anônimo disse…
Aninhaaaaa.... Aninhaaaaaa....
Tudo que vc escreve é muito bonituuu menina... meus parabéns !!!
Tá até add nos meus favoritos o seu blog !!!
Grande beijo...
Té +
Anônimo disse…
Oiê!
Linduuuu! Adorei essa frorzinha...
E vc, pra variar, aumenta a beleza do objeto com as palavras! Parabéns.
Tinhamu muito pra caramba e sinto muita saudade.
Bju,
Andri
Anônimo disse…
Nussa...
Lindo demás, Aninha!!!
A flor, a estória, a via láctea dos brejos da base...
E mais uma vez, vc tem as manhas!!!
E compartilho dos mesmo sentimentos da Andri: saudades, sadaudades...e ti amu um montão assim!!! eheheheheeh

Mil bitocas saudosas!!

Postagens mais visitadas deste blog

De trevas e luz: os brejos

O dom para fazer contato

O Capão da Onça